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Aqui você vai encontrar um pouco de tudo, inclusive alguma mistura de português, latim, inglês, francês, não necessariamente nesta ordem, mas predominando sempre a língua portuguesa, procurando seguir o Novo Acordo Ortográfico. Confesso que neste último quesito terei algumas dificuldades, principalmente referentes à hifenização, que é algo que nem os linguistas chegaram a um consenso definitivo ainda. No mais, meu modo de pensar pode parecer não muito convencional, mesmo porque possuo um espectro da psiquê bipolar e borderline, embora pessoalmente eu não goste destes rótulos. Na seção "links interessantes" pode encontrar algo sobre isso, se estiver interessado(a).

Desarme-se de todo preconceito, elimine os julgamentos equivocados a priori e deixe as conclusões a posteriori. ;-)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Semi-auto-medicação explicada

Dentro de meu armário tenho dezenas de caixas de medicações psiquiátricas, das mais diferentes classes. Bom, em minha última consulta com meu psiquiatra, foi estipulado que eu tomaria bupropiona, associada ao lítio e divalproato de sódio e clonazepam eventualmente, que eu já tomava. Essa escolha foi feita para combater sintomas depressivos e minimizar ao máximo uma possível virada maníaca ou sintomas maníacos, posto que a bupropiona, segundo estudos, é um dos antidepressivos mais seguros para tratamento de depressão associada ao transtorno bipolar. ¹

Porém, a bupropiona atua unicamente nos sintomas depressivos, aumentando muito a ansiedade, podendo me levar a quase ataques de pânico (quem já teve sabe o quanto isso é horrível!), além de causar insônia marcante. Sem falar na possibilidade de sintomas psicóticos em quem tem certa propensão para isso, já que ela é um antidepressivo noradrenérgico e dopaminérgico (aumenta a disponibilidade desses dois neurotransmissores no SNC - Sistema Nervoso Central).

A mirtazapina, que eu tomava antes, por cerca de um 5 anos, é uma medicação "heróica" para depressão. Extremamente potente, rápida e eficiente, mas ela é muito noradrenérgica também.

(Qualquer medicação que é noradrenérgica - que aumenta a concentração de noradrenalina e que apesar da semelhança do nome não tem nada a ver com a adrenalina - tem o poder de aumentar, e muito, a agressividade e impulsividade na pessoa, principalmente em quem tem transtornos afetivos/de humor). ²


Pois bem. Achei uma caixa de escitalopram aqui, que é um ISRS (Inibidor Seletivo da Recaptação da Serotonina), assim como paroxetina, fluoxetina, reboxetina, sertralina, entre tantos outros. Acontece que existem vários receptores serotoninérgicos e cada ISRS atua de uma forma particular nesse sentido. Acontece também que, segundo estudos ³, quando a medicação atua nos receptores 5-HT2 ela provoca aumento da agressividade e impulsividade nos indivíduos, enquanto que se ela atua no receptor 5-HT3 ela provoca diminuição da agressividade e impulsividade, ao mesmo tempo que proporciona efeito antidepressivo. E é mais ou menos isso que o escitalopram faz, pelo fato de ter pouca afinidade pelos receptores 5-HT2* e possivelmente afinidade pelo 5-HT3, sendo por este motivo que o escolhi para me "auto-medicar", ou seja, diminuir sintomas depressisvos, aumentando minha energia, ao mesmo tempo proporcionando um bom bloqueio para sintomas de pânico, sem muito risco para sintomas (hipo)maníacos em dose baixa à moderada. Eu chamo de "semi-auto-medicação" porque essa combinação foi sugerida na última consulta ao invés da bupropiona, e como já conheço o efeito e possíveis interações entre inúmeras medicações psiquiátricas, digamos que eu tenha o respaldo do meu médico para fazer pequenas alterações no esquema medicamentoso com o que eu já tenho aqui.

Referências:

¹ Tratamento da Depressão Bipolar - Dr. Beny Lafer (Doutor em psiquiatria - USP) [ http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol32/s1/49.html ]

² Tratamento farmacológico da impulsividade e do comportamento agressivo, Pedro Antônio Schmidt do Prado-Lima (PUCRS) [ http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44462009000600004&script=sci_arttext]

³ Neurobiology of Aggression and Violence - Larry J. Siever, M.D. [ http://ajp.psychiatryonline.org/cgi/content/full/165/4/429?maxtoshow=&hits=10&RESULTFORMAT=1&author1=siever&title=Neurobiology+of+aggression+and+violence&andorexacttitle=and&andorexacttitleabs=and&andorexactfulltext=and&searchid=1&FIRSTINDEX=0&sortspec=relevance&resourcetype=HWCIT ]

* Escitalopram - bula [ http://www.medicinanet.com.br/bula/8151/escitalopram.htm ]

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Quem sabe a real felicidade reside na simplicidade?

Estava hoje na sala de espera da perícia médica (longa história), e tinha umas 8 pessoas comigo, sendo uma em especial que possuía esquizofrenia e bipolaridade, entre traços de outros transtornos, mas sendo estes os principais. O que tinha achado mais chocante não foi nem o fato da "rotulação" dela, mesmo porque eu próprio não estou longe disso, como é óbvio neste blog, bastando ver os links, os blogs que sigo e a própria essência de algumas postagens. Mas enfim, continuando, o que para mim foi mais chocante foi o pessimismo super notável e visível nessa pessoa, uma mulher de uns 30 anos de idade. Conversa vai, conversa vem, e nada era solução para ela. Certo, ela apresentava sintomas depressivos, mas não parecia ser de fato isso o principal, como ela mesma havia dito. Detalhe: neste ponto não estou querendo condená-la de forma alguma, mesmo porque eu sei o tanto que é ruim se sentir numa situação sem saída, sem solução, sem uma "luz no fim do túnel". Mas atentei para o tanto que é importante não permirtimos, na medida do nosso possível, nos entregar à fatalidade do vazio existencial que pode imperar tanto no transtorno borderline de personalidade como na bipolaridade ou até mesmo em quem não possui nada clínico diagnosticado. Nisso reside a importância óbvia de nos preenchermos diariamente com coisas boas (acho muito simples a palavra "boa", mas é de fato simples!).

Neste ponto faço parênteses para explicar o "coisas boas", mais especificamente "o que é bom". Eu, sendo cinéfilo, gosto muito do filme K-Pax (quem nunca viu, veja!). O protagonista é um suposto esquizofrênico com comorbidade de estresse pós-traumático e amnésia dissociativa e sintomas aparentemente psicóticos [alerta de spoiler! Paro por aqui sobre esses detalhes]. Bom, o personagem num dado momento, numa conversa com o psiquiatra, é arguido por este sobre como definir o que é bom. O personagem simplesmente fala que todo mundo sabe o que é bom. Qualquer criança sabe definir o que é bom e o que é mau. Há aqueles que dizem que a bondade e maldade são relativas. De fato um maniqueísmo simplório não explica a complexidade da existência, mas são conceitos úteis para simplificar a vida e realizar escolhas. Talvez no meu primeiro post em que discordo parcialmente de Nietzsche, afirmo que não é apenas "para além do bem e do mal" que reside uma nova moral, mas também "para além do bem e do mal" e principalmente também dentro do simples conceito do bem e do mal.

Indo um pouco mais na frente, e também para ilustrar, numa conversa com meu psiquiatra, ele me disse certa vez: simplifique as coisas. Logicamente não se trata de uma alienação, de forma alguma! Mas é uma negação do excesso filosófico ou do excesso de pensamentos inúteis que por vezes só nos deixam piores ou no mínimo não nos levam a lugar algum. Sabem aquela auto-ajuda "barata" do tipo: "agora vou pensar coisas boas e procurar relaxar"? Então, é disso que estou falando. Não é pelo fato de ser clichê que deixa de ser verdade (outra frase de filme; desta vez do psiquiatra do filme Verônika Decide Morrer, aquele baseado no livro homônimo de Paulo Coelho).

Pois bem, para finalizar, e voltando ao tema inicial, aquele preenchimento diário (se possível) de coisas boas, se baseia na maioria das vezes em coisas simples mesmo. Claro, se alguém achar que é melhor estudar e aprofundar na subjetividade humana ou pessoal, tudo bem. Contudo eu creio que a verdadeira felicidade consiste em apreciar a beleza das pequenas coisas (claro que as grandes também, mas principalmente nas pequenas coisas, ou melhor: as mais acessíveis que muitas vezes podemos esquecer neste vasto universo particular único que possuímos); e também, consequentemente, sentir prazer nas pequenas coisas. Se nos alimentarmos com isso, o que vier a mais será um verdadeiro presente dos deuses!