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Aqui você vai encontrar um pouco de tudo, inclusive alguma mistura de português, latim, inglês, francês, não necessariamente nesta ordem, mas predominando sempre a língua portuguesa, procurando seguir o Novo Acordo Ortográfico. Confesso que neste último quesito terei algumas dificuldades, principalmente referentes à hifenização, que é algo que nem os linguistas chegaram a um consenso definitivo ainda. No mais, meu modo de pensar pode parecer não muito convencional, mesmo porque possuo um espectro da psiquê bipolar e borderline, embora pessoalmente eu não goste destes rótulos. Na seção "links interessantes" pode encontrar algo sobre isso, se estiver interessado(a).

Desarme-se de todo preconceito, elimine os julgamentos equivocados a priori e deixe as conclusões a posteriori. ;-)

terça-feira, 4 de maio de 2010

Algumas diferenças entre Borderline e Bipolar: um breve esboço.

Após um período ausente, resolvi escrever algo, depois de uma conversa com meu amigo "Two". Sem a pretensão de um tratado científico, aqui vão apenas alguns aspectos que já observei e estudei durante algum tempo.

Comecemos pela impulsividade, sobretudo por gastos, que parece ser a mais importante clinicamente. O borderline pode ter impulsividade por gastos, comida, ou seja lá o que for, para tentar preencher uma saciedade que ironicamente nunca é saciada. Enquanto o bipolar usualmente faz gastos (quando é o caso) simplesmente por euforia, o borderline faz gastos para tentar preencher seu vazio interior. Neste caso o borderline compra/adquire coisas sem valor real agregado em busca de tentar preencher seu vazio e sofrimento de uma forma imediata. Porém o resultado prático é geralmente o mesmo, embora as razões sejam diferentes em sua essência entre os dois transtornos. Já outros borderlines podem se cortar. Aliás, uma grande parte se corta, segundo estatísticas médicas¹: cerca de 52,2% se cortam. Os motivos podem ser vários, incluindo a necessidade de talvez sentir alívio ao saberem que não estão de fato vazios literalmente, o que seria uma "semi-psicose"*. Outros, borderlines, mais raramente, conseguem se encontrar de fato na vida, descobrirem um propósito de vida, um lugar no mundo, o que ameniza muito o transtorno como um todo. Ah, a diferença básica entre um borderline e um bipolar provavelmente está aí! Resumindo bastante, o borderline tem oscilações de humor por causa de sua falta de sincronia com o mundo, com a sociedade, então quando ele "se encontra" no mundo, encontra um papel a desempenhar no mundo, suas oscilações consequentemente diminuirão bastante.

O bipolar, nesse mesmo contexto, tem a origem de seu transtorno nas "pontas" e não na "raiz", como é o caso do borderline. O bipolar tem oscilações de humor independente de seu papel no mundo, sendo algo mais bioquímico e menos existencial, enquanto que o borderline tem suas oscilações de pensamento/ideações/humor por causa de sua distorção intrínseca em relação ao mundo, sendo algo mais existencial, onde não podem ser descartadas a problemática genética e de desordem bioquímica cerebral, naturalmente, que no mínimo contribuem para que o transtorno seja desenvolvido em determinados grupos mais suscetíveis, posto que quase todos são submetidos a condições semelhantes, porém apenas uma minoria desenvolve o transtorno propriamente dito.

Diante disso, o bipolar não costuma melhorar com a idade, embora sua impulsividade possa diminuir com a idade, enquanto que o borderline comprovadamente melhora com a idade², sobretudo após os 35 anos, mas em contrapartida responde de maneira menos previsível às medicações. Posto que isso é óbvio: como há de se tratar uma personalidade através apenas de medicações? Isso é virtualmente impossível.

Referências:

¹ Carolyn Zittel Conklin, Ph.D. Drew Westen, Ph.D. (American Journal of Psychiatry, 162:5, May 2005. Table 3)

² Paris J, Zweig-Frank H. A 27 year follow-up of patients with borderline personality disorder. Compr Psychiatry 2001;42:482-7;

Zanarini MC, Frankenburg FR, Hennen J, Silk KR. The longitudinal course of borderline psychopathology: 6-year prospective follow-up of the phenomenology of borderline personality disorder. Am J Psychiatry 2003;160:274-83;

Gunderson JG, Morey LC, Stout RL, Skodol AE, Shea MT, McGlashan TH, et al. Major depressive disorder and borderline personality disorder revisited: longitudinal interactions. J Clin Psychiatry 2004;65:1049-56.

* Eu mesmo já tentei me cortar e senti alívio ao ver meu sangue adentrando uma seringa, vendo de uma forma "semi-psicótica" que não sou oco, no sentido literal.

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse texto é digno de ler da primeira até a última letra.

Muito bom mesmo cara.

Bom até de mais.

Se permitir até copio e te dou os créditos (como de prache) para colocar no meu blog. Eu nunca tive uma visão tão clara das diferenças. Nota 10!

Le chat c'est moi disse...

Bem atrasado, mas obrigado, Odisseu! :-D

Esteja sempre à vontade.

Camilla disse...

Ih, estou atrasada também =P

Vi esse post na comunidade Amigos Borderlines, no tópico que a Mel criou.
E ficou muito bom, consegui ver melhor as diferenças. Apesar de ter acordado tão cedo que minha mente está na cama ainda ._.
Ah, vou dar outra lida para garantir que entendi mesmo.
Ser borderline e ter déficit de atenção não é fácil >.<

Abraços Rogério!! ^^