
Alguns filósofos dizem que a esperança é
"uma crença emocional na possibilidade de resultados positivos relacionados com eventos e circunstâncias da vivência pessoal"*. No meu modo de ver, até concordaria com essa definição, porém substituindo "emocional" por "racional". É lógico que se formos analisar esperança no sentido mais vulgar do termo, a esperança seria algo emocional. Para ilustrar isso, cito o equívoco de Nietzsche, e um dos poucos pontos em que discordo veementemente dele, quando ele diz que
"a esperança é o derradeiro mal; é o pior dos males, porquanto prolonga o tormento dos homens"¹. Neste caso em particular, mesmo sem ter a intenção, ele possivelmente se referia à esperança sem embasamento; uma situação em que tudo (ou quase tudo) mostra o inevitável fracasso e mesmo assim a pessoa mantém a "esperança" de que tudo (ou quase tudo) vai dar certo. Esta sim é uma "esperança" profundamente emocional, se é que pode ser chamada de esperança. Eu prefiro chamar esse tipo de sentimento enganador de
ilusão¹.
Pois bem. A esperança é a crença embasada no conhecimento adquirido de que algo pode ter êxito. A esperança, neste caso, é um processo racional, baseado numa probabilidade não sempre mensurável com precisão, porém mensurável pelo senso-crítico individual e/ou coletivo. Como exemplos: se vou prestar um vestibular então vou estudar a ponto de obter um número suficiente de respostas certas para ser aprovado; se vou pleitear uma vaga de emprego, compatível com meu currículo, tenho a esperança de que vou ser aceito pela empresa diante da demanda exigida e minha respectiva compatibilidade profissional; se mantenho uma alimentação saudável, pratico exercícios físicos moderadamente etc, logicamente mantenho a esperança de que vou ter saúde durante boa parte de minha vida. Enfim, são várias as situações em que a esperança pode ser aplicada, e não só pode como deve. A ilusão não; normalmente é prejudicial.
Segundo o mito grego da Caixa de Pandora
(detalhe: imagem em cima**), Zeus ordenou que todos os males saíssem da caixa, e por último a esperança. O significado disso provavelmente é o fato de a humanidade usar a esperança para suportar os sofrimentos da vida. Porém, creio que foi a
ilusão²
que Zeus reservou para sair da caixa de Pandora por último e não a esperança. É razoável supor que no grego antigo a palavra esperança tinha mais conotação de ilusão do que um processo racional baseado em vivência empírica positiva. Isso também é fundamentado pelo fato de a palavra em grego ἐλπίς/elpís, que é definida como "a espera de alguma coisa" poder ser traduzida como esperança, sendo essa tradução seguramente arbitrária. Uma tradução melhor poderia ser "antecipação", ou até o
temor irracional³. Logo, esse tipo de "esperança" é uma ilusão. Uma falsa idéia de que algo pode dar certo, mesmo diante de toda vivência apontando o fracasso. Esse tipo de "esperança ilusória" é destrutiva, pois não nos leva a mudança de foco, de objetivos, de vida, por fim.
¹ Friedrich Nietzsche, em Humano, demasiado humano.² Por favor, não confundir com "alucinação".*,³ Fonte: Wikipédia.
** John William Waterhouse: Pandora (1896).